Só o que o manual manda. Mais nada!

O problema do trocador de calor do Jeep Renegade trouxe à tona uma questão importante quando a gente considera o futuro dos carros atuais: será que os motores e componentes vão ser tão duráveis, a ponto de aguentarem “gambiarras” e manutenções erradas à medida que o veículo envelhece?

Motor 1.8 no Renegade

No caso do trocador de calor, a origem do problema não foi oficializada pela Stellantis, mas até onde a gente sabe, pode estar ligada ao fluido de arrefecimento do carro. Em outras palavras, à “água” do radiador. Chamar de “água” é hoje um erro, pois a parte de água que vai no compartimento é a menor ds mistura, conforme a indicação prevista para cada veículo. E ainda assim, não se trata de água da torneira. A água em questão é a desmineralizada, comprada nas concessionárias ou em lojas de autopeças.

O restante da mistura é o aditivo de radiador. Esse produto, entre outras funções, evita o congelamento do líquido de arrefecimento e, principalmente, tem propriedades para não gerar corrosão nas partes internas do motor e dos componentes.

O caso do câmbio automático de seis marchas da linha Jeep e Fiat tem uma pequena peça como principal o vilão: o trocador de calor. Ele oxida e permite que o líquido do radiador se misture com o óleo do cambio automático. Isso pode provocar até a quebra da caixa pelo atrito interno das peças.

Pelas informações que nós obtivemos como atribuídas ao fabricante, a montadora aponta que bastaria o proprietário seguir rigorosamente a manutenção prevista no manual para o veículo, que o problema não iria surgir.

Em parte isso faz sentido. Recentemente, o editor da plataforma EU DIRIJO conversou com um proprietário de Jeep Renegade. O carro em questão é um Longitude 1.8 2019, comprado zero quilômetro e hoje está com 93 mil km rodados. Foi no final de julho que o mecânico particular apontou para o problema. Por sorte, a caixa não foi afetada e o conserto saiu em R$ 3,5 mil. Importante ressaltar que o proprietário fez todas as manutenções do carro e as revisões na concessionária. Fora esse problema, houve apenas a troca da bomba da água nesse período. Mais nada.

No entanto, um ex-proprietário de Jeep Renegade 1.8, que comprou o carro usado, contou para a redação da plataforma EU DIRIJO que fez a primeira revisão no carro e não teve problemas. Na segunda, veio a surpresa. A concessionária apresentou diagnóstico condenando o trocador de calor e o concerto com troca de peças da caixa chegou a oito mil reais. O argumento da concessionária é que a antiga proprietária não havia seguido a manutenção correta do veículo, que ainda tinha quilometragem baixa.

A questão que fica é como vai estar o carro para o terceiro, quarto ou quinto dono? Em que condições o carro vai chegar? E será que esses futuros proprietários vão conseguir dar a manutenção devida? O exemplo do Jeep Renegade é apenas um porque cada carro hoje exige uma manutenção, líquidos e librificantes específicos.

Outro exemplo importante é quanto ao óleo lubrificante. Cada vez mais os motores exigem que a especificação seja seguida à arrisca para cada veículo. O Fiat Argo por exemplo, se mostrou um modelo resistente e durável. Mas utiliza um óleo bastante fino, 0W20. No canal “O Mecânico”, no YouTube, um dos profissionais aponta que em hipótese alguma a especificação do óleo deve ser alterada, especialmente se for por um produto mais barato.

Além de atender a lubrificação do motor, o Firefly do Fiat Argo tem uma peça que é movimentada pelo próprio óleo lubrificante. A troca por outro de viscosidade maior pode interferir no funcionamento desses componentes que tem precisão milimétrica.

Com tudo isso, a régua do custo de manutenção dos carros se eleva mais uma vez, tal como foi quando os modelos passaram a ser equipados com injeção eletrônica e exigiram computadores e uma tecnologia mais avançada para diagnóstico. Por consequência, o custo dos reparos também aumentou quando a gente compara com os carros com carburador.

Motor Firefly no C3

Nunca foi tão importante e necessário seguir estritamente a recomendação do manual do proprietário. Ficou para trás o tempo em que o proprietário levantava o capô do carro na garagem e completava o nível da água do arrefecimento apenas abrindo a torneira de casa.

Mas se o custo aumenta, em algum momento da vida dos carros, isso será uma barreira. O que resta saber é se os motores atuais podem ter a mesma durabilidade dos que tínhamos. Não porque são ruins. Mas porque podem não resistir tanto aos maus tratos dos donos.