A chegada da linha Palio 2001 trouxe além do desenho uma cor que marcou época na Fiat. Não pelas vendas mas hoje pela raridade: Amarelo Ímola.
Em 1996, quando o Fiat Palio foi lançado, o catálogo de cores tinha quase dez opções, muito além de cinza, prata e branco. Havia azul claro, escuro, roxo, verde e laranja. Os tempos eram outros e havia procura. Porém, a preferência pelos tons neutros começava a ganhar forma nessa época. “É pela segurança.” Um dos argumentos era de que um carro cinza não chamava tanto a atenção quanto um laranja.
Em 2000, o último ano de oferta da linha Palio antes da primeira mudança, trouxe o Verde Amazon como destaque, em toda linha Fiat. Mas foi na linha 2000/2001 que o novo Palio estreou na cor mais emblemática: o Amarelo Ímola.

As fotos do modelo nos anúncios das revistas e também nos comerciais da TV mostravam sempre a mesma cor. E era possível até mesmo ver a raríssima versão Stile do Palio, com o para-choque sem pintura na grade, as rodas de liga-leve com raios curvos, maçanetas, saias e espelhos pintados.

“É hora de rever seus conceitos”, dizia a frase do anúncio na TV. Até mesmo nos testes das revistas, o então “novo Palio” praticamente só aparecia no tom amarelo. A revista Quatro Rodas, por exemplo, chegou a comparar a linha Gol com a linha Palio. Estavam no teste um Palio Young (carroceria antiga), um EX 2 portas e mais dois: Um ELX 1.0 16V e um Stile 1.6 16V, estes últimos na cor Amarelo Ímola. Depois que as versões mais completas foram sendo testadas, outras revistas e publicações passaram a avaliar também a versão de entrada. E foi quando o EX de duas portas também apareceu nessa cor.
A cor
O Amarelo Ímola era oferecido como opcional de pintura metálica. A cor amarela ganhava profundidade com elementos em alumínio graúdo em sua fórmula. Olhando de perto, essas partículas brilhavam, especialmente ao sol. Não era um amarelo sólido, como o que foi usado anos mais tarde em Palio 1.8 R e Stilo. Era um tom mais puxado para o dourado, acentuado pelos elementos em poliéster alumínio ouro e amarelo cromo.
Na época este editor, então com seus 15 anos e já apaixonado por carro, acreditava que a maioria dos Palio vendidos seriam amarelos. Não foi o que aconteceu. A cor mais comum passou a ser a Cinza Steel, quase um prata. Havia também um tom azul metálico escuro e outro cinza menos comum: o Cinza Orione, próximo do grafite. E cadê o amarelo? Difícil ver um na rua, ainda mais em cidade do interior.
Brava Amarelo Ímola
Além do Palio, o Fiat Brava também poderia vir na cor Amarelo Ímola na época. Fotos da linha 2000/2001 mostram que o Brava ganhava personalidade nessa cor e combinava com as linhas italianas da carroceria. No site da Fiat, havia um tour virtual interno em um Brava. De dentro para fora, via-se a cor amarela em partes do capô e portas. E o carro usado para as imagens ainda tinha teto solar.
Mas se é difícil encontrar um Palio Amarelo Ímola, um Brava é ainda mais. Um exemplar apareceu à venda em 2023 numa cidade próxima a Gramado na Serra Gaúcha. Mas já beirava o vale da morte e o anúncio desapareceu no Facebook.
Lá em casa
Em 2011 o pai do jornalista que escreve este artigo encontrou um Palio 2002 e decidiu trocar o Uno Mille ELX 1995 que tinha na época.
– Que cor é?
– Ah, é bonito o carro!
A resposta para a minha pergunta de certa forma queria desviar a atenção. Mas na verdade nem meu pai entendia bem que cor era aquela. “É um ocre”, dizia. Sem celulares que enviavam imagem, as primeiras fotos do Palio chegaram pra mim por e-mail.
– Um Palio Amarelo Ímola! Pensei alto naquele dia.

Quando o vi ao vivo pela primeira vez, percebi rodas de ferro da linha VW, para-choques e faróis desalinhados e marcas de repintura em algumas peças. Mas para um carro com 140 mil km e quase dez anos de uso, sabíamos que não seria impecável.
Mas se era um EX, como tinha faróis de neblina? E espelhos, maçanetas e saias pintadas? Daí veio a segunda descoberta de que se tratava de um Palio muito raro. 2002 foi o segundo e último ano de oferta do Amarelo Ímola no catálogo da Fiat. Para responder ao Gol Trend, lançado como série especial na linha de entrada do Gol, a Fiat deu perfumaria estética para o Palio EX e o lançou como Palio Century.
O EX ganhava rodas aro 14, faróis de neblina e detalhes na cor da carroceria. O manual tinha até um livreto suplementar “Century”. A série especial teve exemplares amarelos fabricados e esse era um deles: Um raro, raríssimo Palio EX Century 1.0 16V Amarelo Ímola 2002.
O carro não tinha ar condicionado nem direção hidráulica. Só ar quente, vidros e travas elétricas. A primeira ação foi ver um jogo de calotas. Na época, encontrei o desenho do Fiat Linea T-Jet em aro 14. Lindo. Só não lembrei que as rodas que estavam nesse Palio eram da linha Gol e as calotas não encaixaram. Foi preciso afinar os raios, cortando com ferro quente, para que a colocação fosse possível.
Combinou bem porque o carro já havia recebido aerofólio traseiro em algum momento da vida. Depois foi a vez da manutenção, com correia dentada nova, amortecedores e molas. Fora isso, o motor Fire 1.0 16V mostrou que andava bem na estrada quando o giro subia e não deu manutenção. Quando esteve em Porto Alegre, pegou o ano de mudança da sede da Ulbra TV do centro para o campus da universidade em Canoas, na região metropolitana. Assim, passou a pegar estrada comigo todos os dias.
Dois anos depois, voltou a viver na fronteira. Foi nesse tempo que uma das calotas se soltou e se perdeu. E eu saí de casa e encontrei em uma lixeira da travessa Miranda e Castro, em Porto Alegre, duas calotas originais de Fiat Marea SX, aro 15. Tinham até o emblema Fiat original. Não tive dúvida e peguei antes que o lixeiro passasse. Juntei a elas mais duas, paralelas, e levei para colocar no Palio. Assim permaneceu por mais alguns anos até ser trocado por um Fox.
Depois dele, ainda vieram outros carros de série especial para a garagem. Mas esse é assunto para um próximo artigo. E o Palio? Hoje segue emplacado em Jaguarão e vez ou outra a gente o encontra por lá. Talvez um dia ele volte pra casa.
Reportagem: Guilherme Rockett
Imagens: divulgação e acervo pessoal